Ruinas, Bage, RS by MiriamVolpiceli
Licínia Quitério, "Da Memória dos Sentidos"
Na vila velha, a casa velha, ou as veias nas fendas onde correm trepadeiras de campainhas azuis que sempre voltam com as andorinhas, ou os gatos invisíveis nos parapeitos, a lamber feridas inventadas, ou os restos teimosos da tinta verde nas paredes da sala de jantar, ou o frio respirar das lagartixas no beiral do telhado azul de nuvens raras. Lá dentro, uma tosse miúda, persistente, ou um ranger de portas empenadas ou os talheres a tilintar na mesa, a abafar suspiros censurados, ou os gritos do medo pelo escuro ou o piar do velho mocho ou as correrias das crianças: não me apanhas, não me apanhas… Ali a casa ainda habitada a alimentar ruínas.
Licínia Quitério, "Da Memória dos Sentidos"
Um comentário:
Bela foto! Quantas histórias uma velha janela inspira...
Quero saber mais sobre Licínia Quitério. Mande informações.
Abraço.
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